Seu João Bento vendia madeira (caibros e linhas) e residia no mesmo local onde trabalhava. Todos os dias, ia à bodega de Dona Luíza, vizinha à sua casa, e tomava algumas bicadas de cachaça.
Certo dia, comprou um galão de tinta, para pintar a frente da pequena casa onde morava. Quando começou a pintura, viu que a tinta não correspondia à cor escolhida na loja. Já tinha pintado a parede quase toda e não tinha mais como trocar a lata de tinta. Contrariado, ficou esbravejando, achando a cor da parede horrorosa. Realmente, o amarelo marfim que ele comprara tinha sido trocado, por um amarelo-ferrugem, avermelhado. Como já estava usando a tinta, estava sem jeito. Sua vontade era voltar à loja e quebrar a cara do vendedor irresponsável, que lhe entregou a tinta errada. Muito triste, ele começou a desabafar com todas as pessoas que por sua casa passavam. Elas foram unânimes em concordar com ele, dizendo que, de fato, a tinta era muito feia.
Seu João Bento, antes de começar a pintura da frente da casa, já tinha tomado a primeira chamada de cachaça do dia. Quando percebeu a troca da tinta, já tinha usado uma boa parte do galão. Ficou contrariado, até a medula óssea.
De repente, mudou o cenário. Pela frente da sua casa, vinha passando a professora Dona Elisa, que era incapaz de um comentário depreciativo, que contrariasse alguém. E a bondosa senhora cumprimentou o homem, delicadamente:
– Bom dia, Seu João Bento! Como está ficando linda sua casa! Que cor bonita e diferente! Está formidável!
Contrariado, Seu João Bento respondeu:
-Bom dia, Dona Elisa! Veja que moleza a minha: Comprei uma tinta amarela, linda, e me mandaram esta cor horrível! Estou com vontade de voltar na loja e quebrar a cara do vendedor!
Muito inteligente, Dona Elisa, vendo o estado de nervos do homem, procurou acalmá-lo:
-Seu João Bento, a cor da tinta está linda! Um amarelo diferente! Está formidável! Pode acreditar! Da próxima vez que eu mandar pintar minha casa, vai ser da cor da sua!
Seu João Bento ficou mais calmo e Dona Elisa seguiu para a escola onde lecionava.
O homem entrou novamente na bodega de dona Luíza e tomou mais três chamadas de cachaça, uma atrás da outra. Embriagado, fez um verdadeiro discurso. Mesmo revoltado com a cor da tinta, teceu grandes elogios à Dona Elisa:
-Dona Elisa é uma santa! Não faz mal a ninguém. Achou linda a tinta que veio trocada. Disse até que vai mandar pintar a casa dela da mesma cor da minha!
Também, mesmo que eu estivesse pintando a casa com tinta cor de “bosta” ela teria dito a mesma coisa:
“Está FORMIDÁVEL, Seu João Bento!”