Por muitos anos, a família Azulay tinha um programa cativo na sexta-feira: um jantar judaico marroquino preparado pela matriarca Sol, mãe de David, criador da Blueman, e Simão, da Yes, Brazil, e avó de Sharon (que segue com a Blueman), Thomaz (que lançou a The Paradise) e Sol (que tem o ateliê S.A focado em vestidos de casamento). “Meu pai e meu tio levavam toda a fábrica. Eram jantares para 60 pessoas. A equipe foi morrendo, os jantares continuaram só que com umas oito pessoas à mesa, mas a quantidade de comida mantinha-se a mesma, feita para um batalhão”, lembra Sol.
Quando a avó se foi, em 2010, a estilista começou a fazer alguns pratos tradicionais da família. Seu cuscuz ficou famoso. Mas só durante a pandemia, ao ficar com a agenda mais tranquila, com casamentos adiados, ela teve tempo para se debruçar nos pratos marroquinos que provou a vida toda, mas cuja a receita desconhecia. “Tenho necessidade de mexer com as mãos. Como não estou bordando vestidos ou fazendo flores, comecei a cozinhar mais. Me dá um prazer enorme. Principalmente essa comida com história, de judeus que vieram para Belém do Pará e mantiveram seus costumes. Minha avó comia cuscuz com acaí e cordeiro com marshmallow de cupuaçu. Tem ancestralidade, muita história e isso me motiva a seguir com essas receitas”, conta Sol. “Percebi que a comida da nossa família era rara, não tinha em outros lugares. Passa longe de quibe, esfirra, lentilha e outros clássicos da gastronomia sírio-libanesa. Os ingredientes e temperos são usados de diferentes formas.”
A marca Couscous nasceu no fim de 2020 e a entrega é apenas uma vez por semana, às sextas. O menu junta clássicos da avó com criações contemporâneas de Sol. Preparos como tagine de frango com tâmaras (R$ 65, 600g); pastillas de carne (R$ 75, 600g), uma torta folhada em massa filo crocante, recheada com ragu de carne, berinjelas, cebolas carameladas, amêndoas e especiarias; além de cordeiros, saladas bem diferentes e, claro, diversas formas de cuscuz. Ainda tem docinhos, bolos e entradas, como terrines, da ala das novas criações.
Animada que só, a nova chef do pedaço já pensa em, quando a pandemia passar, ter uma portinha na rua para servir seu cardápio. E também quer preparar jantares na Casa 9, casarão na Urca que divide com o cabeleireiro Vini Kilesse, e até produzir casamentos completos, do vestido até o bufê. “Hoje, a minha fábrica está assim: tem uma assistente em uma sala fazendo uma luminária, outra bordando flores para a The Paradise, uma terceira preparando as embalagens e eu na cozinha. Sou tudo ao mesmo tempo. Tenho prazer de alimentar o outro. Minhas porções são sempre generosas, adoro saber o que acharam dos pratos, levar uma mesa farta até a casa das pessoas. Herdei isso da minha avó. Assim como as panelonas enormes que ela usava nos seus jantares e agora são da Couscous”, conta Sol, que ainda acumula a apresentação do programa “Feito com amor”, exibido no GNT.